É desesperador quando um cliente resolve ser criativo a partir de um trabalho de um designer. O pior ainda é quando o designer ou escritório em questão não é nem consultado. Pois é, na última semana fiquei sabendo de um caso muito curioso ligado a criação da marca do Fashion Rio.
O caso foi que o escritório de design de moda/web/produto/gráfico/etc. OESTÚDIO (é isso mesmo),desenvolveu a marca da última edição do evento. O Fashion Rio, que vem se consolidando no Rio de Janeiro passou por uma série de mudanças e portanto justificou a mudança no visual. Porém, segundo o pessoal d’OESTUDIO, a polêmica marca (muitos desgostam, preferem a versão anterior) foi pensada apenas para o uso naquela edição do evento, mas a empresa Inbrands, detentora da marca e de outras também importantes no setor, pretendia utilizar o material e torná-la a marca oficial, apesar de não ter sido projetada, estudada e testada para tal.
Marca do Fashion Rio desenhada pelo OESTÚDIO
Tá, até aí morreu Neves, pois não chega a ser incomum que isso aconteça. O ponto desta história é que de repente surgiu uma versão da marca “inspirada” naquela desenvolvida pelo escritório para outros eventos associados ao Fashion Rio. O furo se deu pelo fato de que quem atualiza o site da Inbrands é o próprio OESTUDIO. Conclusão: está armada a confusão, pois o escritório não foi consultado e seu trabalho estava sendo indevidamente apropriado.
Estas são informações de bastidores, mas precisam ser anunciadas para que todo mundo possa entender melhor as ciladas em que podemos cair pela falta de um contrato claro. A questão aparentemente ainda não foi resolvida e o escritório deverá buscar alguma conciliação.
Porém é preciso que os designers e clientes saibam e tenham muito claro quais os serviços que estão sendo contratados e o quais os direitos e obrigações de cada um. Um sistema de identidade visual, assunto recorrente aqui no blog, exige um tempo de estudo detalhado das aplicações, para que sejam identificados os possíveis problemas antes da marca vir a público. Enquanto as aplicações estiverem sob controle dos designers tudo bem, pois eles têm formação para resolver possíveis problemas visuais, mas uma marca institucional passa a ser usada pela empresa no dia-dia e deve ter sido muito bem estudada e possuir um manual claro que especifica o que pode e o que não pode, para que um leigo seja capaz de utilizá-la.
"Releitura" da marca do Fashion Rio em uma das sub-marcas, feita sem a participação d'OESTÚDIO
Isso tudo sem considerar os direitos de propriedade intelectual, pois embora a empresa possa deter os direitos de uso e aplicação da marca, os direitos autorais sobre a criação artística [fazer o que, se é assim que enquadram esta parte na lei] da marca são inalienáveis de seus criadores e, portanto, passíveis de disputa judicial uma vez que considerado o plágio ou tentativa de descaracterização da marca.