8.2.08

Mutilados pelo Design

Clipando: "A Volkswagen do Brasil anunciou na tarde desta sexta-feira (8) a instalação gratuita de uma peça adicional que evita eventuais erros na operação de rebatimento do banco traseiro do Fox aos usuários que tenham dúvida no manuseio do sistema, a partir da próxima semana. A medida foi tomada após o registro de uma série de acidentes acontecidos com oito usuários do veículo, que tiveram dedos mutilados por uma argola usada no rebatimento do banco traseiro..."



Segundo a matéria ainda: "Acidentes ocorrem quando a pessoa, instintivamente, coloca o dedo na argola de metal. Destravado, o mecanismo puxa a argola com força, o que pode decepar a ponta do dedo."

Perder a ponta do erro, para uma montadora como a Volks brasileira, é apenas um dedo. No Fox europeu, ao invés de uma argola, há uma alavanca, tornando o ferimento impossível. A Volks informa em muxoxo corporativista que o manual de operações informa com odevidamente operar o instrumento. Para mim fica a sensação de um erro de projeto que poderia ter sido evitado justamente em observância ao usuário. Não é que o sistema seja incoerente em seu mecanismo, mas as pessoas instintivamente, como observado, buscam apoio na argola, e não na alça.

5 comentários:

Daniel Borges disse...

Bem observado e muito oportuno seu post. No telejornal de hoje vi o asunto, e como a montadora tenta colocar a culpa no usuário por não ler as instruções. Pensei exatamente a mesma coisa. O mecanismo pode induzir ao erro, o que revela uma falha de design grave, uma vez que pode provocar mutilações. Me assusta uma empresa mundial colocar a culpa de suas falhas de projeto no usuário (aliás não foi a volks que usou trabalho escravo na Segunda Guerra?). Fico imaginando o quanto um dedo europeu vale a mais do o de um brasileiro. E um paíse sério isso daria processo. Em um pais sério talvez designers não fizessem isso. Em um país sérios talvez a populção não comprasse carros dessa droga de empresa. Acho que já está na hora de fazermos um designcast.

Ricardo Artur disse...

Mais um serviço de utilidade pública.
Discordo do Girardet: Designers Europeus não são à prova de erros. Ninguém é. Erro de projeto é algo que acontece e continuará a acontecer. O que se esperava é que o projeto pudesse ser testado antes de ser lançado no mercado. Ainda assim, é inevitável prever as reações de todos os usuários, só mesmo com o produto no mercado é possível ter uma amostra significativa de como as pessoas reagem ao objeto.
Agora, em relação às medidas jurídicas e à responsabilidade da montadora sou obrigado a concordar que as coisas são bem diferentes no Brasil e lá fora.
No mínimo a empresa deveria indenizar as vítimas e fazer um Recall para adaptar um mecanismo mais seguro, coisa que está se esquivando de fazer. Ai, se tivéssemos um ministério público que funcionasse...

Daniel Borges disse...

Mas foi o que eu disse. O erro é possível, foi observado e tratado com desdém pela empresa. Pior, a empresa possuía uma solução melhor, solução que utiliza nos modelos de exportação. Me desculpe, mas acho grave a constatção de um erro sério e não buscar reparar isso colocando a culpa no usuário. Se você puder verificar como o mecanismo funciona, vai ver que é muito vagabundo. O Uno possui um sistema de rebatimento de banco desde 1984 e é um sistema muito melhor do que esse. Dizer que erros acontecem é fácil, tanto quando dizer que possibilidades deveriam ser SIM pensadas, e quando detectadas devem ser rapidamente corrigidas. A última opção, e a mais calhorda é colocar a culpa no usuário, e isso nós prifissionais sabemos que é muito feio fazer.

Kath disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Kath disse...

É um problema de design que rebate no nosso problema cultural. Designer Ricardo está certo, não dá pra prever.
Acontece que estamos falando de um veículo que a versão 1.0 não sai a menos de R$ 21.400 e um Uno ainda tem uma solução menos furreca para o problema.
Culpar o usuário é possível quando o problema acontece com 1;quando se torna algo recorrente fica evidente uma falha no projeto.
O problema meeesmo nessa história não é a Volks querer economizar centavos em cada um dos carros que fabrica. É haver gente perdendo o dedo e se contentado com uma explicação bastarda dessas, é essa sensação de impunidade motivada pelos grandes capitais que fez com que nós todos esquecêssemos que temos direitos e meios para garantí-los. As pessoas vítimas dessa negligência deveriam ir à Justiça, expor a empresa, boicotar o carro e toda a montadora. Foda é que a gente aprendeu a abaixar a cabeça e andar em fila pra não tumultuar.
E, Designer Girardet, usar mão de obra escrava na Segunda Guerra é passeio no parque! Agfa, Basf, Bayer, Hoechst e IBM é que souberem tirar o proveito certo de toda a situação.